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Finalmente a North Coast 500, equiparada à Route 66, uma das estradas mais míticas do Reino Unido. Passamos meses a sonhar com ela, a pensar como seria, quais as dificuldades que teríamos, porque seria tão elogiada, se as paisagens que víamos corresponderiam à realidade, etc…e de repente cá estamos nós!! A ansiedade para começar era muita, mas antes de nos pormos à estrada tivemos que nos preparar: encher as águas da Pingu, encher o depósito, verificar o nível do óleo, do gás, ir ao supermercado, carregar todos os gadgets, levantar dinheiro para uma eventualidade. Isto porque, pelo que lemos, este percurso requer alguma preparação prévia. Também para o caso de ficarmos sem rede e sem Internet, passamos num posto de turismo em Inverness para requisitar um mapa. Old school, nunca falha! Agora sim, estávamos prontos para começar esta aventura…

Dia 1

Inverness é o ponto onde começa e também onde acaba, mas pode ser feito de duas formas: para oeste, no sentido dos ponteiros do relógio, ou em direção a norte, no sentido contrário aos ponteiros do relógio. Nós optamos por esta segunda (mais à frente explicamos porquê). Inverness é uma cidade grande e bonita, junto ao Rio Ness, e fizemos um pequeno desvio pois não podíamos deixar de visitar o famoso Loch Ness. Não há na verdade muito para ver além do lago e de uma tabuleta que conta a história da Nessi. A sua existência continua a suscitar debate entre os cépticos e os crentes. Obviamente que nas redondezas se criou toda uma algazarra à volta do “monstro”, desde lojas de souvenirs até tours para descobri-lo.

Loch ness

Seguimos então para norte e a primeira paragem foi na Black Isle Brewery, uma cervejaria orgânica que criou uma edição dedicada à mítica estrada. Tem uma loja de venda a público muito bonita e de lá trouxemos a cerveja para brindarmos no final da rota concluída. Aproveitamos que estávamos na Black Isle e visitamos a vila de Rosemarkie, conhecida por ter um ponto de observação de golfinhos, Chanonry Point, mas só em maré alta. Nós não tivemos sorte, mas contentamo-nos com o caminho até lá que é lindíssimo, entre campos de golfe repletos de amarelo.

O primeiro dia terminou então em Dornoch Beach, uma praia com um extenso areal. Um local bonito e tranquilo para fazermos o nosso jantar e pernoitarmos.

Dia 2

Seguimos para Golspie e visitamos o Dunrobin Castle (entrada 12 eur), construído no século XIII/XIV, sendo desde sempre a residência dos duques de Suntherland. Tem uma imponência e beleza impressionantes. As imediações do castelo são espetaculares, por isso fizemos uma caminhada para conhecer a zona.

Neste lado da costa, parte Este, não há grande coisa para ver a não ser destilarias de Whisky, pelo que demos um grande avanço até Wick para almoçar. Gostamos, sempre que possível, de fazer as refeições num local bonito, desta vez escolhemos a Praia de Staxigoe. Super calma, limpa e com uma água tão clara que desafiava a um mergulho.

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Ali próximo vimos assinalado no mapa as ruínas de um castelo, pelo que fomos lá conhecer. Castle Sinclair Girnigoe, compreende as ruínas de dois castelos: o Castelo Girnigoe, do século XV; e o castelo Sinclair do início do século XVII. Bem, dos castelos já pouco se via, mas a praia era maravilhosa. Super bem localizado, umas vistas impressionantes para o mar.

Castle Sinclair Girnigoe

Já de barriga cheia, continuámos para John O´Groats, pois estávamos desejosos de conhecer a outra costa, parte Norte. John O´Groats é uma pequena aldeia situada no extremo norte da região das Terras Altas Escocesas, pequena, piscatória, simpática, com umas casinhas coloridas viradas para o porto de pesca, e com um parque de campismo com uma localização maravilhosa sobre o mar. Estávamos a precisar de um banho quente e de carregar as baterias, por isso decidimos ficar por lá. Pagamos pelos dois mais a Pingu, com eletricidade, 22 Libras. Não tinha wi-fi, mas havia uma rede paga, que cobrava 4 Libras por dia. Como era dia de Páscoa e queríamos falar com a família toda, optámos por isso…e que bem que soube!

Dia 3

Saímos já depois do almoço em direção a Duncansby head, é a parte mais a nordeste do continente britânico.  Achamos os dois que a nossa visita a Escócia começou aqui. Foi a partir deste ponto que tudo superou a ideia que tínhamos deste país. Daqui em diante é a parte da North Coast 500 com mais “woww´s”.

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Do mais a nordeste, passamos para o mais a norte, Dunnet Head, com um farol muito bonito e um miradouro com vista para uma fantástica encosta. Mais à frente, no caminho, encontramos uma praia com um areal lindo, chamada Dunnet Bay Beach. Os quilómetros seguintes foram cheios de paragens. De Bettyhiil, Borgie, Torrisdale Bay até Coldbackie, foi dos percursos mais lindos que fizemos. As paisagens eram de ficar de boca aberta, paramos 100 vezes para tirar fotografias, das nossas bocas só se ouvia: “isto sim é Escócia.”

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Mas o ponto mais alto deste dia foi o sunset no Loch Eriboll. Nunca mais nos iremos esquecer daquela paisagem das terras altas escocesas, com o sol a esconder-se por detrás das montanhas. Lindo, Lindo!

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Dia 4

A paragem para dormir foi na praia de Balnakeil em Durness. Uma zona de muito vento, uma noite mal dormida, que foi adoçada com um chocolate quente pela manhã no Cocoa Mountain, que se gaba de ter o melhor chocolate quente da ilha. É realmente maravilhoso, está aprovado!

Mais satisfeitos, seguimos caminho para as grutas, Smoo Cave. É uma grande caverna de mar e caverna de água doce em Durness. Umas aberturas gigantes na pedra que vale a pena visitar pela sua imponência.

Deixando Durness para trás, o caminho até Scourie é lindíssimo, por um vale com uma beleza natural de cortar a respiração. A baía de Scourie é linda, vale a pena parar e apreciar.

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E ainda bem que paramos, descansamos e nos restabelecemos, pois a estrada seguinte foi … dureza! Super estreita e acidentada, não se cruzavam dois carros, curva e contracurva, altos e baixos… Mas bonita, com muita vegetação, vistas sobre baías incríveis, e praias também, como a Clashnessie e Clachtoll. Fizemos um desvio para conhecer a Achmelvich Beach. Sem dúvida das praias mais bonitas que pisamos.

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Já com fome, e rumo à paragem para pernoitar, fomos surpreendidos com o bonito lago, Loch Assyn. O entardecer tornou aquele céu e aquele caminho ainda mais bonito, e a cereja no topo do bolo foi o encontro com veados. Ficamos perplexos a olhá-los…Lindo!

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Dia 5

A dormida foi em Ullapool, apesar do seu pequeno tamanho, é o maior aglomerado de casas por muitos e muitos quilómetros e possui um importante porto de pesca, conhecido pela qualidade do seu marisco. Segundo as indicações que nos deram e as que vimos na internet, o melhor local para o provar seria no The Seafood Shack, uma barraca de rua com algumas mesas em redor e uma fila enorme de malta para fazer os pedidos. Uma vez que não tínhamos mesa disponível, pegamos nos “Santiaguinhos” e fomos almoçar para a Pingu. Um facto curioso deste local é não ter carta fixa, é um menu diferente todos os dias, dependendo do que os pescadores trazem do mar. Foi a primeira vez durante toda a viagem que encontramos wc com duche de água quente, gratuito, e mais … internet grátis em toda a vila. Obrigado Ullapool, foi realmente top!

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Pouco tempo depois paramos em Corrieshalloch Gorge, um grande desfiladeiro, e fomos ver a famosa ponte suspensa de onde se avista uma gigante cascata com quase 50 metros, Falls of Measach. Muito bonito, apesar de impor respeito tanto a altura como as tábuas de madeira no chão da ponte suspensa.

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Os quilómetros seguintes foram sempre rodeados por natureza, lagos, paisagens que jamais veremos iguais, mas quando lemos nas placas a indicação que era uma zona de “Esquilos vermelhos”, os nossos olhos já não se focaram noutra coisa. Infelizmente não conseguimos avistar nenhum.

Começamos a aproximar-nos então de Beinn Eighe e da sua reserva natural. Deitada ao sul do Loch Maree, forma uma longa cordilheira com muitos esporões e cumes. Há imensos caminhos e trilhos para fazer até lá, mas não fazia parte dos nossos planos. Ficamo-nos só por admirar a paisagem da estrada que ladeia esta imponente cordilheira.

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O nervoso miudinho começava a tomar conta de nós, pois a parte mais falada da North Coast estava a chegar. Enquanto isso olhávamos ao fundo a ilha de Skye, sempre com o Loch Torridon ao nosso lado. Chegados a Shieldaig, podíamos cortar à esquerda para Lochcarron por uma via principal, ou à direita em direção a Applecross por uma via com “passing places”, ou seja, uma via de largura reduzida onde, de quando em quando, tem uma zona para um carro “aguardar” enquanto outro passa. Como facilidade não é connosco, foi por aqui que fomos.

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Applecross é uma vila muito bonita, plantada à beira mar, e quando lá passamos estavam imensas caravanas que se cruzaram connosco no caminho, a preparar-se para pernoitar lá. E porquê? Porque o famoso e (dizem) perigoso troço Bealach na Bà é logo de seguida e o sol já estava a pôr-se. Bealach na Bà é então uma sinuosa estrada de apenas uma faixa (mínima) através das montanhas da península de Applecross. Pensamos também ficar por lá e fazer no dia seguinte, mais frescos e com mais luz, mas só faltavam uns quilómetros para terminar o percurso e estávamos cheios de pica. Além do mais, fazer aquela estrada ao entardecer deveria ser mágico não? E foi… começa logo com uma subida íngreme e um cotovelo, numa estrada que mal cabiam as rodas da Pingu. Olhamos para o topo da montanha e vimos um veado macho, com uma enorme armação. Brutal, o céu meio rosado, e aquela figura altiva no topo, deixou-nos em êxtase. A partir dali foi só desfrutar daquele troço tão falado por todos que já la passaram. É realmente um caminho espetacular, super desafiante, por uma estrada que ficará para sempre na nossa memória. Inclinações de 20 %, cotovelos apertadíssimos, sempre acompanhados por paisagens maravilhosas. Fazer ao entardecer teve realmente um sabor especial porque estávamos completamente sozinhos (os malucos!) e porque tínhamos por cima de nós um céu com cores que tornaram aqueles quilómetros ainda mais emocionantes. Bealach na Bà não é perigosa como tantos a descrevem, é sim desafiante e digna de aventureiros que gostam de guardar recordações…e nós vamos guardar esta para sempre!

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Foi desta forma que terminamos a North Coast 500, a olhar esta incrível estrada pelo espelho retrovisor e com um sorriso nos lábios. Felizes porque terminamos mais uma etapa a que nos propusemos. Paramos então na vila seguinte para descansar. Foi um dia bastante emotivo e sentíamo-nos exaustos. Não, não nos esquecemos da cerveja! Já não pensávamos nós noutra coisa… e veio o brinde com a cerveja “North Coast 500”, tal como tínhamos prometido que faríamos!

Como dissemos acima, esta rota inicia-se e termina em Inverness e pode ser feita no sentido dos ponteiros do relógio ou em sentido contrário. Agora já vos podemos explicar porque optamos por fazer no sentido contrário, pois queríamos deixar a Bealach na Bà para o fim, ou seja queríamos terminar em grande. Outra das razões foi porque queríamos visitar a ilha de Skye e desta forma fica mais a caminho.

Como perceberam, fazer a North Coast 500 não é conhecer cada vila, cada ponto de interesse, cada destilaria de whisky (das 1000 que há), ou parar em cada museu e em cada castelo. Fazer esta estrada é desfrutar das paisagens, desfrutar da condução, abrir o vidro e sentir que estamos no meio da natureza mais virgem que alguma vez vimos.

Um conselho honesto para quem visitar a Escócia: não precisam de fazer as 500 milhas, mas se querem conhecer a verdadeira essência da Escócia, façam o troço desde Duncansby head e terminem na Bealach na Bà. Depois do que virão aqui, nada mais na Escócia vos surpreenderá.

Deixamos algumas recomendações importantes para os aventureiros:

– Escolhe o que queres ver, os teus pontos de interesse, porque há 500 coisas e podes gastar vários dias.

– Cuidado, nem todas as ruas estão em bom estado e conduzir pela esquerda requer ainda mais perícia.

– É super tranquilo e seguro estacionar em qualquer lado para dormir (campismo selvagem), mas também tem imensos parques de campismo, todos eles com vistas incríveis sobre o mar.

– Levem roupa para todas as estações do ano, tanto está sol como começa de repente a chover. As mudanças de tempo são muito rápidas.

– Está a ficar uma rota bastante turística e já se faz notar pelos preços. Abasteçam-se bem antes, tanto de comida como de gasolina.

– Ainda que haja uma bomba de gasolina em cada vila, nunca deixem o depósito descer de metade, porque há alturas em que a distância entre vilas é realmente grande e passam por enormes desertos sem nenhuma casa sequer.

– Levem dinheiro convosco para uma eventualidade. Levantar dinheiro lá, em alguns casos, tem um valor acrescido.

– Grande parte da rota não tem rede e são raros os locais (cafés, restaurantes, etc) com wi-fi.

– Quando virem as famosas vacas com repas das terras altas, não percam a oportunidade, parem e tirem uma foto. Pela publicidade que fazem, parece que há imensas por todo o lado, mas elas são na realidade escassas!

 

Sejam Felizes,

Mochileiros

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Comments:

  • Manu

    28 de Abril, 2019

    Completamente viciada na leitura das vossas aventuras!!! Beijinhos

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  • Elda Ramos

    28 de Abril, 2019

    Wow, está muito profissional, dicas e tudo 😃, depois de visitarem a Europa vai ser mais fácil viajar poupando tempo e dinheiro com as vossas dicas. 👍👍👍
    Beijinhos, continuem a viajar em segurança 😘😘

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